A alma vibra forte quando a agulha fere os sulcos


Antiquados, repousam em seus leitos de madeira,
mas a alma vibra forte quando a agulha fere os sulcos.

Minha visita à loja de discos foi marcada por loops e transições de memórias. Enquanto Renan e Sabrina exploravam as novidades na caixa Pop, eu perambulava de um lado a outro conhecendo a loja. Em um dado momento, parei, ergui um dos álbuns da caixa Eletro: Depeche Mode. Enquanto apreciava a capa um loop de quatro acordes ecoava em meus ouvidos encaixando-se perfeitamente àquele sábado chuvoso, e ao mesmo tempo, reacendendo o petrichor de tantos outros dias chuvosos regados a cafés e reflexões – Enjoy the Silence era a música. Enquanto eu aproveitava o meu silêncio sonoro, minhas mãos tatearam sobre as beiradas de outros álbuns daquela mesma caixa, e desta vez, Daft Punk foi o sorteado. 

Bastaram alguns segundos para que eu estivesse marchando em círculos – ♪Around the world , around the world♪– vestindo um capacete com antenas. Após alguns instantes vivendo entre esqueletos dançarinos, fade-out – fade in e eis que me vejo como um cachorro humanoide portando um rádio pelas ruas de Porto Alegre – Da Funk!  Entorpecido pelas viagens internas e ansioso por outras, dei alguns passos para o lado como quem busca um ângulo melhor para admirar o horizonte. Sem preparação alguma o loop com vozes robóticas sintetizadas foi interrompido por um grito demasiadamente humano: era Them bones de Alice in Chains. Enquanto o riff da guitarra circulava em meus ouvidos, lembrei-me das vezes que o grito de Layne Staley havia sido também o meu próprio grito. Após o baque, olhei para trás e percebi que Vic Rattlehead me fitava. No reflexo de seus óculos icônicos me vi pré-adolescente recostado em minha cama tentando desenhar a capa de Rust in Peace. Ao lado, Moving Pictures da Rush parecia querer alongar aquele meu estado de transe. 

Saí da loja mas lá fiquei, disperso entre inúmeras memórias prensadas em corpos plásticos e obsoletos, entre um loop e outro... lá fiquei.


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