Colaboração compositor-intérpretes na criação musical contemporânea: o projeto Coletivo N·S·L·O - Parte 1

Mesa-redonda em Porto Alegre

Colaboração compositor-intérpretes na criação musical contemporânea: o projeto Coletivo N·S·L·O. Este foi o título da nossa primeira atividade pública, uma mesa redonda realizada na sala Armando Albuquerque, no Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Foi uma troca riquíssima, quase terapêutica, de experiências sobre performance e criação musicais, um momento no qual cada um expôs suas experiências, vivências e visões de mundo. Esse momento, gratificante e revelador, me levou a vários questionamentos e reflexões sobre o tema. Mas não me levou a respostas, visto que, quanto mais se pensa sobre a colaboração compositor-intérpretes na criação musical, mais os limites dessas funções parecem se mover. Por vezes, esses limites até somem.

Curiosamente, até o início da minha idade adulta, eu nunca pensei que fosse possível sequer conhecer um COMPOSITOR. Acostumado, desde bem criança, a ver nos discos, livros e revistas, os nomes de grandes compositores da História da Música, sempre tive a ideia de que todos já haviam morrido até final do século XIX, ou início do XX. Essas eram apenas deduções de uma criança (e depois adolescente); nunca ninguém me falara nada sobre isso. Mas não deixava de ser um reflexo do mercado fonográfico da música de concerto, que sempre privilegiou a música tonal de compositores do Barroco, Classicismo e Romantismo.

Mais adiante, quando comecei a estudar violão, descobri que haviam compositores também do século XX e XXI, inclusive latino-americanos (!) e brasileiros (!!), mas sempre compositores bem distantes geograficamente, ou já falecidos. Mesmo sem ninguém me induzir a essa ideia, imaginei, por muitos anos, que o ofício de compositor de música de concerto fosse algo sobrenatural, e que estes eram alguns poucos escolhidos que raramente despontavam na humanidade, como ilhas de sabedoria e bom gosto em meio ao mundo caótico que vivemos.

Aos 15 anos, frequentei um curso de Música Contemporânea, no qual conheci e me apaixonei por diversos compositores do século XX. Foi o início de uma nova era pra mim. E qual não foi a minha emoção quando descobri que haviam dois professores da instituição que eu estudava que escreviam algumas músicas em partitura! Eram COMPOSITORES! Cheguei a ver algumas peças deles, algo bem modesto, mas estava diante de pessoas que conheciam o ofício da composição, e isso era surreal.

Maurício de Oliveira, o grande nome da música instrumental do Espírito Santo, compositor e violonista, cuja obra eu tanto conhecia, parecia ser uma figura inatingível, algo muito distante, alguém com quem eu nunca teria qualquer contato - e não tive, apenas o vi duas vezes.

O mais louco disso tudo é que meu pai compôs diversas canções ao longo de sua vida, e também músicas instrumentais, especialmente para violão solo. E eu, desde criança, mesmo quando não sabia quase nada, criava coisas ao violão, letras de música, canções. E também música instrumental. Hoje me pergunto: porque demorei tanto tempo para fazer um link entre essas criações que fizemos, e as músicas por partitura dos verdadeiros COMPOSITORES que eu tocava, dadas as devidas proporções? Tinham coisas de natureza tão parecida... Mas essa ficha demorou pra cair.

Desde adolescente, eu criava muitas partituras no computador, colocava pra tocar, transcrevia algumas coisas. Mas nunca sequer imaginei que isso poderia ser uma música séria, de concerto, erudita. E ainda nunca tinha conhecido um compositor... Na graduação, foquei muito na performance de um repertório mais consolidado, inclusive para a participação em concursos competitivos, em meio aos quais conheci, efetivamente, alguns compositores. A partir desses contatos, uma nova percepção sobre composição e performance começou a ser desenvolvida...


Comentários

  1. Felizmente nao precisei sair de casa para conhecer compositores e tenho o privilégio de ter composições feitas especialmente para mim. Muita gratidão.

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