Colaboração compositor-intérpretes na criação musical contemporânea: o projeto Coletivo N·S·L·O - Parte 3

Mesa-redonda em Porto Alegre

Entre 2012 e 2014, imergi na performance de compositores capixabas (além dos repertórios que escolhi para os recitais do mestrado), culminando na gravação do álbum duplo Capixaba, gravado no final de 2014 e início de 2015, e lançado no início de 2015.

Trabalhar com compositores próximos foi uma experiência muito rica em minha trajetória, e consistiu em diferentes naturezas de colaboração. Foram 18 obras de 6 compositores nascidos ou radicados no Espírito Santo: Horácio Simões, Renan Simões, Marcos Bentes, Marcelo Rauta, Marcos Zanandréa e Carlos Cruz.

Com Horácio Simões, meu pai, trabalhei na definição exata, nota a nota, do que ele queria estipular como "partitura final", de três de suas composições para violão solo que ele havia gravado entre as décadas de 70 e 80 ─ inclusive, algumas das músicas mais belas que toquei até hoje (Na Trilha da Brisa, O Que se Vê e Tudo o Que Eu Tenho a Dizer).

Com Marcos Bentes, a colaboração consistiu em fechar a interpretação de uma música original para violão (Encontros) e de dois arranjos para violão solo por mim realizados em 2010 (Displicentemente e The Movie Song).

Com Marcelo Rauta, com quem já havia colaborado na revisão e estreia de diversas peças, trabalhei a interpretação do estudo a mim dedicado (Estudo nº 4) e das duas Sonatinas para dois violões (Sonatina nº 1 e Sonatina nº 2), que toquei com Sabrina Souza. Sabrina também registrou, neste CD, o estudo a ela dedicado (Estudo nº 5), que foi seu objeto de pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso.

Com Marcos Zanandréa, trabalhei a revisão e interpretação de seus Estudos Soreanos, inspiradas em Fernando Sor e por mim estreadas à época das gravações.

De Carlos Cruz, compositor que sempre admirei, e sobre o qual desenvolvi minha pesquisa de mestrado, registrei Banda de Congos, Imagens do Agreste e Lendas Capixabas. Infelizmente, Cruz faleceu pouco antes de eu iniciar essa pesquisa. Dessa forma, meu processo de "colaboração" com o compositor se deu por um viés mais "tradicional": através do estudo de sua obra, seus manuscritos e as diferentes versões de suas obras.

Banda de Congos possuía dois manuscritos para quatro violões, uma edição eletrônica para esta formação, e uma versão manuscrita bem "fora de mão" para dois violões ─ esta foi a utilizada na gravação, mas cada violão foi dividido em dois, o que gerou um resultado sonoro intermediário entre as versões para dois e quatro violões.

Imagens do Agreste foi a obra mais retrabalhada por Cruz: foram 10 versões para diferentes formações! A original é para violão solo, mas Sabrina e eu registramos a versão para duo de violões.

Lendas Capixabas, objeto de pesquisa do meu mestrado, foi analisada a partir de dois manuscritos para violão solo, uma edição eletrônica para violão solo, e um manuscrito para violão e orquestra; foi registrada a partir da versão solo por mim elaborada, a partir de todos os manuscritos.

Depois dessa experiência de gravação de compositores próximos, fiquei ainda mais instigado para trabalhar a colaboração compositor-intérprete (e intérprete-compositor) de forma mais ativa. Na próxima e última postagem sobre o meu histórico de colaboração compositor-intérprete, suscitado a partir das reflexões da nossa primeira mesa-redonda, apresentarei como esse processo esteve presente ao longo do meu doutorado.


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