O processo de criação musical e os formatos de apresentação do repertório do Coletivo N·S·L·O

Nessa postagem registro meu planejamento atual para os resultados finais que alcançaremos no projeto "Coletivo N·S·L·O: colaboração compositor-intérpretes na criação musical contemporânea", selecionado na edição 2017-2018 do Programa Rumos Itaú Cultural.

Em sua postagem sobre nossa experiência em Ribeirão Preto, Dario comenta as escolhas dos lugares e a organização do espaço na construção das performances das charlas, quatro peças solo que tiveram suas pré-estreias realizadas nessa etapa recente do nosso projeto. Essas escolhas são constitutivas do processo criativo das peças e é apenas no seu contexto que são compreensíveis e expressivas as escolhas sonoras, gestuais, visuais e estruturais registradas em suas partituras.

As soluções e descobertas inerentes ao processo de montagem e primeiras performances públicas das charlas colocou em evidência o aspecto da intensidade e volume sonoro na proposta do coletivo. Por um lado, nessas peças eminentemente intimistas, sonoridades suaves como ressonâncias de ataques percussivos no corpo do piano e texturas esparsas aos violões são abraçadas, com grande efeito expressivo. Por outro lado, na experiência com Tudo é perdido quando o desejo fica repartido, duo para violonistas que vínhamos apresentado em formato palco-plateia, fomos confrontados com a necessidade de admitir que a projeção sonora é uma questão problemática para esta peça, quando levada para um auditório ou teatro com capacidade acima de 60 pessoas. E note-se que, devido à movimentação exigida na partitura/roteiro, é inviável pensar em amplificação dos violões.


Janela do espaço cultural da Cia. Minaz em Ribeirão Preto


Amplificação dos violões, aliás, é um tema inescapável nas próximas rodadas de criações colaborativas. Para o terceiro movimento, serão dois duos: violão e flauta; violão e piano. Para o quarto movimento, um quarteto envolvendo todos os instrumentistas do coletivo (provavelmente acrescido de difusão sonora). Para essas peças, já há consenso dentro do grupo de que trabalharemos com os violões amplificados.

Há aí pelo menos três implicações. A primeira refere-se ao estudo das condições técnicas, seleção e ajuste de equipamentos. A segunda, definir se a amplificação será compensatória (para que os violões sejam ouvidos em meio aos demais instrumentos) ou constitutiva da sonoridade dessas peças (com amplificação de todos os instrumentos). Nas conversas sobre essa questão em Ribeirão Preto-SP, compartilhei com os colegas minha inclinação à ideia de integrar a sonoridade amplificada à proposta. A terceira remete à organização do espaço e das ações: com amplificação de instrumentos acústicos por meio de microfones, o deslocamento dos instrumentistas na área de performance cria novas situações acústicas. Especificamente, surge a possibilidade de explorar, na composição e construção das performances, o contraste entre as sonoridades com e sem amplificação de cada instrumento.

Diante dessas considerações, vem amadurecendo, para mim, uma proposta dos formatos de apresentação do repertório a ser criado ao longo de todo o projeto do Coletivo N·S·L·O no Programa Rumos Itaú Cultural. Acredito que o repertório irá se organizar em três eventos distintos, cada qual explorando uma relação distinta entre artistas e público.

1. Charlatório

Espaço

Centro cultural ou outro local com piano de concerto

Evento

Instalação musical: as pessoas (público limitado) circulam livremente pelo espaço de performance e se deparam com os quatro músicos em diferentes locais, além de outras provocações, tarefas ou informações sobre os artistas.

Programa

charla #1 [pianista e difusão sonora]
charla #2 [flautista e difusão audiovisual]
charla #3 [violonista e difusão sonora]
charla #4 [violonista e difusão audiovisual]
charlatório [quarteto; improvisação guiada]

Duração

60 minutos

2. Sururus perdidos

Espaço

Sala de ensaio grande ou palco de teatro com piano de concerto

Evento

Roda de conversa: as pessoas (público limitado) participam de um bate-papo com os músicos do Coletivo N·S·L·O. O bate-papo é intercalado com a performance de peças nas quais todos são convidados a atuar como assistentes.

Programa

Tudo é perdido quando o desejo fica repartido [dois violonistas, difusão sonora e assistentes]
Novos sururus e quiprocós de um convescote chumbrega [flautista, pianista, difusão sonora e assistentes]
desfotografia [quarteto; improvisação guiada]

Duração

90 minutos

3. Rosa dos ventos

Espaço

Sala de concerto ou teatro com piano

Evento

Concerto: disposição palco-plateia tradicional.

Programa

[peças dos repertórios individuais a definir]

Episódios de viagem
  • El viejo de bien [flauta e violão]
  • The meme loop [violão e piano]
  • Rosa dos ventos [quarteto e difusão sonora]

Duração

90 minutos


Comentários