charla #3: fragmentos mentais do músico-performer-pesquisador-professor

Passagem da charla #3; Gina como espectadora

Uma experiência ultra-intimista: tocar para apenas um espectador de vez! Além disso, paira no ar uma série de interrogações que podem deixar o ouvinte ainda mais perdido do que antes de assistir à minha charla.

Talvez uma das coisas mais curiosas que tenho observado, nas atividades do Coletivo, é como não-músicos, que frequentemente subestimamos, aceitam e muitas vezes compram nossas ideias, adentrando com tudo nesse mundo desconhecido e torto, e ao mesmo tempo tão verdadeiro e visceral, no qual estamos inseridos.

Não foi diferente na estreia das Charlas. Os ouvintes se mostraram imersos na experiência, não parecendo se preocupar com o significado exato das coisas, mas curtindo as tantas interrogações e reflexões suscitadas pela experiência de terem músicas exclusivamente tocadas para eles.


Vejo minha charla como fragmentos mentais do meu fazer profissional: um músico performer que faz parte de um coletivo de criação e performance, imerso nesse universo, mas que também está imerso em uma pesquisa de doutorado, na performance da música de diversos períodos, e, especialmente, no ensino de Música.

Na charla, há diversos fragmentos da minha pesquisa de doutorado, como se me assombrassem enquanto toco: a difusão sonora é construída a partir dos registros de áudio dos sujeitos participantes da pesquisa, tocando os excertos musicais que propus, e de trechos das entrevistas dos participantes; no ambiente, há fotos e gráficos que utilizei na tese. O meu próprio ato de tocar é comumente assombrado com os meus próprios excertos musicais da pesquisa.

Em meio à peça, eu toco um trecho de La catedral, de Agustín Barrios, sobre o qual comento diversos aspectos interpretativos, como em uma aula, ou em conversa com alguém sobre a análise e performance desta peça. Busquei dar o máximo de naturalidade à transição para essa parte, bem como na sua saída para a seção seguinte.

Um gesto da mão no ar, realizado enquanto o espectador ilumina o local para observar as figuras da minha pesquisa, fará maior sentido no charlatório, momento final do evento, no qual nós quatro improvisamos sobre o material das charlas individuais. Neste momento, fragmentos outrora desconexos podem fazer mais sentido para o ouvinte, ou então confundi-lo ainda mais. O melhor de tudo é que ninguém sairá o mesmo dessa experiência imersiva. Nem nós.


Um momento peculiar da minha charla foi o olhar fixo para o espectador, quando uma difusão de vozes misteriosas entra em cena. Alguns expectadores desviaram o olhar, mas teve gente que olhou fixamente de volta. E você, encararia um olhar pesado em meio a uma tão assustadora difusão sonora, peculiar performance ao violão e sufocante ambiente? Ou será que nem é tão assustador assim? Será que o que nos assusta de verdade é olhar pra dentro de nós com tudo? Será que o mais nos parece sufocante é deixar exteriorizar nossos fragmentos mentais?



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