Colaboração compositor-intérpretes na criação musical contemporânea: o projeto Coletivo N·S·L·O - Parte 4

Mesa-redonda em Porto Alegre

Ingressei no doutorado em 2015. Nessa época, eu já havia decidido que incluiria, em meus estudos e programas de concerto, novas peças de compositores da minha vivência, o que gerou duas estreias muito importantes para o meu desenvolvimento musical: Palimpsestos, de João Corrêa, e Suíte Sulina VI - Os Campos Neutrais, de Fernando Mattos. Além dessas, também toquei Porto Allegro, de Daniel Wolff, meu orientador artístico/professor de violão do doutorado.

Palimpsestos, de João Corrêa, em três movimentos, foi trabalhada entre 2015 e 2016. Nesta peça, o violão é afinado em C#m (E-C#-G#-C#-G#-C#), como em Koyunbaba, de Carlo Domeniconi, e sua linguagem técnica é bastante guitarrística no primeiro e terceiro movimentos (Corrêa é violonista e guitarrista). Boa parte da colaboração se centrou em discussões sobre sonoridades e conduções musicais nas diferentes seções, além de revisões para uma maior fluência da peça.

Suíte Sulina VI - Os Campos Neutrais, de Fernando Mattos, foi trabalhada entre 2016 e 2017, e consiste em uma peça programática em cinco movimentos, baseada em um conto gaúcho recolhido pela esposa do compositor. Este conto, ambientado nos campos neutrais ─ as "terras de ninguém", paraíso dos piratas de antigamente ─ discorre sobre um saque feito a um cargueiro inglês. A música representa, nos mínimos detalhes, como se deu todo este processo, do mau presságio já sentido pelos ingleses, às suas ossadas sendo encontradas nessa praia deserta em uma época posterior. Nossa colaboração foi à distância (nessa época, eu já residia em Mossoró), a partir de conversas sobre a peça; a partitura era muito rica na descrição dos diferentes momentos e elementos musicais, e em suas relações com o conto. Tivemos um longo encontro presencial sobre a construção da performance da peça, dois meses antes da estreia, o que foi bastante enriquecedor para o processo, principalmente por eu nunca ter tocado uma peça programática deste porte e com tanta conexão com um texto.

A experiência com Porto Allegro foi muito curiosa e interessante, pois Daniel Wolff, além de compositor da peça, a conhecia profundamente em sua dimensão técnica. Ele já havia exposto, em sua edição publicada da peça, uma série de digitações que a tornavam muito fluente. Ainda assim, houveram muitas outras digitações passadas na aula, em especial de mão direita, que auxiliaram ainda mais na condução da peça.

Em meio a essas colaborações, conheci Heitor, no segundo semestre de 2015. Em 2016, em um almoço com ele e Sabrina, Heitor nos apresentou uma proposta de obra para duo de violões, uma montagem de Shakespeare para casal de violonistas. Em março de 2018, esta era uma das duas primeiras criações do Coletivo N·S·L·O que foram estreadas em Mossoró.


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