Divergencias interpretativas de una misma pieza: Charla #2
Este texto está en Portugués y (más abajo) en Español
Português
Charla #2
A Charla #2,
como comentado em postagens anteriores do nosso Blog, está baseada num texto
que realizei em 2016 para um exercício acadêmico da disciplina “Música, corpo e
gênero” ministrada pelas queridas professoras Catarina Domenici e Isabel
Nogueira do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS. Após a estreia do
álbum vieram retornos de amigos e colegas que muito generosamente se dispuseram
a dividir conosco suas percepções, todas elas muito instigantes e que deram
abertura a discussões reflexivas que possivelmente terão mais assunto pela
frente...
Eu trago aqui
a questão que, no meio de espontaneidade, risos e leveza, acabou sendo um
assunto que gerou controvérsia pela diversidade de interpretações que
observamos nos retornos recebidos, algumas destas sujeitas à não familiaridade
com a língua portuguesa (o que nos levou a refletir sobre a necessidade de ter
legendas nos vídeos) e outras, não ligadas a uma distância idiomática, mas à
interpretação que cada ouvinte deu a partir das suas experiências e crenças. A
controvérsia foi induzida pela frase:
-a flauta é um instrumento feminino-
Trago quatro exemplos
de interpretações diferentes:
1)”Felicitaciones
por el trabajo, gran resultado, debo admitir que me siento ofendido con eso de
que la flauta es un instrumento feminino (lo único que entendí -risos-) quiero
creer que es un mal entendido por el desconocimiento del idioma, y que alguna
de las dos Ginas defendió al gremio flautístico masculino (…) -risos- estaba
pensando que el feminismo estaba llegando al extremo”
2)”Yo
estoy de acuerdo con que la flauta es un instrumento femenino, por supuesto,
dentro de los cánones del ochocientos donde la mujer representa lo etéreo, lo
delicado, lo ligero… (…) la idea de sonido de la flauta en orquesta propende
por evitar la dureza, la pesadez y oscuridad lo que en un contrabajo sería
normal… se nos asignó un papel y estamos medio obligados a adherirnos a él… Por
fortuna la escuela, la mecánica y hasta el imaginario entorno a la flauta están
evolucionando, pero para mí la flauta da más voz a lo femenino que a lo
masculino de todos modos…”
3)”Gostei muito da música, pois a pesar do
tom do texto ser sério, não deixa de ser engraçado porque ele é real né? essa
questão da flauta ser feminina e [a sala] estar cheia de homens, né? eu também
que toco flauta doce é a mesma coisa, a flauta doce é feminino mas é cheio de
homem...”
4)”No principio me incomodou a historia da
flauta ser feminina, mas depois fiquei tentando achar essa feminilidade, e de
novo o vídeo auxilia, a conversa dela com a flauta auxilia, e... porque a
flauta ela não está sendo tocada só docemente né? ela tem uns ataques, uma
coisa de energia forte, masculina, yang, também né? mas que não deixa de ser
essa energia ying, suave...”
Coloco estes
exemplos, sem interpretações ou observações sobre eles, pois a sua diversidade e
conteúdos falam por si só. O que certamente destaco é o quanto a “questão de
gênero” tão forte principalmente desde a década dos 60’s e tão presente e
circundante hoje em dia, e que é tão indiferente para alguns/algumas, tão
rejeitada por outres, e tão acolhida e representativa para tantas pessoas, é um
assunto que indubitavelmente mexe conosco, e que bom que mexe... isso diz
bastante...
Eu no meu
dilema e, digamos, preocupação de ser interpretada como não gostaria, perante as
divergentes e inesperadas leituras à minha fala, escrevi uma pequena nota
editorial:
Nota editorial: O retorno de alguns
assistentes fez-me pensar que o texto da Charla #2 contém ironias que arriscam
a ter pouco sucesso na sua interpretação... pelas dúvidas sinto a necessidade
de esclarecer...
-O texto ironiza sexismo, ou seja,
instrumento não tem gênero, não tem instrumento musical feminino, nem tem
instrumento musical masculino, os instrumentos e as músicas podem ser tocados
por quem quiser fazê-lo.
-O texto ironiza as demandas
estereotipadas que são colocadas à imagem, ao visual dos e das performers.
-O texto brinca com hibridismos
linguísticos, mistura línguas, destaca a riqueza sonoro-cultural dos sotaques.
-O texto convida a olhar pro “outro” com carinho,
enxergar o quanto eu e ele somos infinitos <3
Este impulso meu, de escrever uma nota
editorial, trouxe novas questões que certamente não são novas pra mim, nem pra
nós coletivonsles, e que fazem parte de discussões dentro das artes:
Se a ideia
irônica que se desejava comunicar, na frase -a flauta é um instrumento feminino-, recebeu interpretações
inesperadas, pelo menos por mim, isto abre várias possíveis perguntas perante
aquele “mistério”:
-Faltou
contexto para comunicar a ironia?
-Faltou ênfase
na entoação para comunicar a intenção irônica?
-O ouvinte
passou rápido por alguns detalhes condutores da narrativa da peça sem perceber
intenções expressivas da mesma?
-O assunto é
tão amplo e complexo, que pequenas ironias podem ficar limitadas ou ambíguas?
Por outra parte, faço
revisão de um dos pontos da minha própria nota editorial:
-O texto ironiza sexismo, ou seja,
instrumento não tem gênero, não tem instrumento musical feminino, nem tem
instrumento musical masculino, os instrumentos e as músicas podem ser tocados
por quem quiser fazê-lo.
Claramente, o
assunto é vasto e com raízes muito sensíveis e profundas, as ideias de X
instrumento fica melhor nas mãos de Y gênero, ou X instrumento representa Y
caraterística, entre outras afirmações, são crenças contextuais (histórica e
localmente situadas), atreladas a uma muito antiga série de imaginários,
associações, metaforizações, que como cultura vimos reproduzindo por séculos,
ou milênios se quiser, e que, felizmente, podem ser questionáveis e mutáveis,
mesmo com algumas resistências. A
respeito, indico o texto “A performance musical e o gênero feminino” de
Catarina Domenici (2013) que faz parte do Volume “Estudos de Gênero, Corpo e
Música: abordagens metodológicas” da ANPPOM -Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação em Música- organizado por Isabel Nogueira e Susan Campos Fonseca,
cujos textos e bibliografias relacionadas podem nos dar um panorama mais
localizado e aprofundado da discussão.
Español
Charla #2
La Charla # 2, como comentamos en posts
anteriores de nuestro Blog, se basa en un texto que realicé en 2016 para un
ejercicio académico de la asignatura “Música, cuerpo y género” impartido por
las queridas profesoras Catarina Domenici e Isabel Nogueira del Programa de
Posgrado en Música de la UFRGS. Tras el debut del disco recibimos comentarios de
amigos y compañeros que muy generosamente se dispusieron a compartir sus
percepciones con nosotros, todas estas muy instigadoras, abriendo discusiones
reflexivas que posiblemente tendrán más tema por delante...
Traigo aquí la cuestión que, en medio de
espontaneidad, risas y ligereza, terminó siendo un tema que generó controversia,
debido a la diversidad de interpretaciones que observamos en las declaraciones
recibidas, algunas de ellas sujetas al desconocimiento del idioma portugués (lo
que nos llevó a reflexionar sobre la necesidad de tener subtítulos en los
videos) y otras, no relacionadas a una distancia idiomática, sino a la interpretación
que cada oyente dio a la pieza a partir de sus vivencias y creencias. La controversia
fue inducida por la frase:
-la flauta es un instrumento femenino-
Les traigo cuatro ejemplos de diferentes
interpretaciones:
1)”Felicitaciones
por el trabajo, gran resultado, debo admitir que me siento ofendido con eso de
que la flauta es un instrumento feminino (lo único que entendí -risos-) quiero
creer que es un mal entendido por el desconocimiento del idioma, y que alguna
de las dos Ginas defendió al gremio flautístico masculino (…) -risos- estaba
pensando que el feminismo estaba llegando al extremo”
2)”Yo
estoy de acuerdo con que la flauta es un instrumento femenino, por supuesto,
dentro de los cánones del ochocientos donde la mujer representa lo etéreo, lo
delicado, lo ligero… (…) la idea de sonido de la flauta en orquesta propende
por evitar la dureza, la pesadez y oscuridad lo que en un contrabajo sería
normal… se nos asignó un papel y estamos medio obligados a adherirnos a él… Por
fortuna la escuela, la mecánica y hasta el imaginario entorno a la flauta están
evolucionando, pero para mí la flauta da más voz a lo femenino que a lo
masculino de todos modos…”
3)”Me
gustó mucho la pieza, porque a pesar de que el tono del texto es serio, sigue
siendo divertido porque es real ¿no? este tema de la flauta es femenina y [la
sala] está llena de hombres, ¿verdad? Yo que toco flauta dulce también es lo
mismo, la flauta dulce es femenina pero el gremio está lleno de hombres... ”
4)”Al
principio me molestó la historia de que la flauta era femenina, pero luego
estaba tratando de encontrar esa feminidad, y nuevamente el video ayuda, la conversación
de la flautista con la flauta ayuda, y... porque la flauta no está siendo tocada
solo dulcemente ¿verdad? ella tiene algunos ataques, algo de energía fuerte,
masculino, “yang” también, ¿verdad? pero no deja de ser esa energía “ying”,
suave..."
Pongo estos ejemplos, sin interpretaciones ni
observaciones sobre ellos, porque su diversidad y contenidos hablan por sí
mismos. Lo que sin duda destaco es cuán fuerte es la “cuestión de género”, principalmente
desde los años 60 y tan presente y circundante hoy en día, este asunto que es
tan indiferente para unos, tan rechazado por otros, y tan acogido y
representativo para otras personas, es un tema que sin duda nos mueve, y qué
bueno es que no mueva no?... eso dice mucho...
Yo, en mi dilema y, digamos, preocupación de
estar siendo interpretada como no me gustaría, ante las lecturas divergentes e
inesperadas de mi discurso, escribí una breve nota editorial:
Nota
editorial: Los comentarios de algunos asistentes me hicieron pensar que el
texto de la Charla #2 contiene ironías que arriesgan tener poco éxito en su interpretación...
por las dudas siento la necesidad de aclarar ...
-El
texto ironiza el sexismo en el ámbito de la música, es decir, los instrumentos
no tienen (o no deberían/necesitarían tener) género, no hay instrumentos
musicales femeninos, ni instrumentos musicales masculinos, los instrumentos y
las músicas pueden ser tocados por cualquiera que quiera hacerlo.
-El
texto ironiza las exigencias estereotipadas que se colocan sobre la imagen, el
visual de los y las intérpretes.
-El
texto juega con hibridismos lingüísticos, mezcla idiomas, resalta la riqueza
sonoro-cultural de los acentos.
-El
texto invita a mirar al “otro” con cariño, a percibir cuán infinitos somos cada
uno de nosotros.
Este impulso mío, de escribir una nota
editorial, trajo consigo nuevas preguntas que ciertamente no son nuevas para
mí, ni para nosotros “colectivonsles”, y que hacen parte de discusiones dentro
de las artes:
Si la idea irónica que queríamos comunicar, en
la frase -la flauta es un instrumento femenino-, recibió interpretaciones
inesperadas, al menos para mí, esto abre varias preguntas posibles ante ese
“misterio”:
-¿Faltó
contexto para comunicar la ironía?
-
¿Faltó énfasis en la entonación para comunicar la intención irónica?
-
¿El oyente pasó rápidamente por algunos de los detalles conductores de la
narrativa de la obra, sin darse cuenta de sus intenciones expresivas?
-¿Este
tema es tan amplio y complejo que las pequeñas ironías pueden quedar limitadas
o ambiguas?
Por otro lado, retomo uno de los puntos de mi
propia nota editorial:
El
texto ironiza el sexismo en el ámbito de la música, es decir, los instrumentos
no tienen (o no deberían/necesitarían tener) género, no hay instrumentos
musicales femeninos, ni instrumentos musicales masculinos, los instrumentos y
las músicas pueden ser tocados por cualquiera que quiera hacerlo.
Claramente, el tema es vasto y con raíces muy
sensibles y profundas. Ideas como, el instrumento X queda mejor en manos del
género Y, o el instrumento X representa la característica Y, entre otras
afirmaciones, son creencias contextuales (histórica y localmente situadas),
vinculadas a una serie muy antigua de imaginarios, asociaciones,
metaforizaciones, que como cultura venimos reproduciendo durante siglos, o
milenios si se quiere, y que, afortunadamente, pueden ser cuestionables y
cambiantes, incluso con alguna resistencia. Al respecto, indico el texto “A performance musical e o gênero feminino”
de Catarina Domenici (2013) que forma parte del Volumen “Estudos de gênero, corpo e música: abordagens metodológicas” de la ANPPOM
-Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música- organizado por
Isabel Nogueira y Susan Campos Fonseca, cuyos textos y bibliografías afines
pueden darnos un panorama más localizado y profundo de la discusión.
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